terça-feira, 26 de janeiro de 2010

Sondagem da Escrita

A sondagem da Escrita é um recurso essencial para o Psicopedagogo. Pois permite verificar, no momento da avaliação, quais as hipóteses que a criança tem com relação a escrita e do funcionamento da língua. Partindo desse conhecimento o Psicopedagogo estará apto a realizar intervenções que permitam efetivamente a construção da base alfabética da escrita.

veja a seguir, de forma resumida, os níveis de desenvolvimento das hipóteses da escrita formados pela criança durante o processo de alfabetização.

Nível 1: PRÉ-SILÁBICO
  1. Fase pictórica: a criança registra garatujas e desenhos.
  2. Fase gráfica primitiva: a criança registra símbolos ou letras misturadas com números.
  3. Fase pré silábica: a criança começa a diferenciar letras de números, desenhos ou símbolos.

NÍVEL 2: SILÁBICO

A criança conta os pedaços sonoros, isto é, as sílabas e coloca uma letra para cada pedaço. Essa noção de cada sílaba corresponde a uma letra pode acontecer com ou sem valor sonoro convencional.

Exemplo: AO (GATO) ou GT (GATO).

NÍVEL 3: SILÁBICO ALFABÉTICO

É um momento conflitante, pis a criança precisa negar a lógica do nível anterior(silábico). É quando o valor sonoro torna-se imperioso e a criança começa a crescentar letras principalmente na primeira sílaba.

Exemplo: CAVL (CAVALO)

NÍVEL 4: ALFABÉTICO

A criança reconstroi o sistema linguistico e compreende a sua organização. Exemplo compreende que B e O são grafados BO e que L e A são grafados LA e que juntos significam BOLA.

Diante de exposto concluimos que se o Psicopedagogo possue conhecimentos e habilidades específicas, as quais o permitam dirigir e orientar com segurança as tentativas de escrita da criança. Ele saberá identificar o estágio no qual a criança se encontra, interpretará sua hipoteses, selecionará melhor as atividades e exercícos que estimulem a criança na compreensão do nível seguite ao que ela se encontra. Partindo dessa teoria poderá, de forma mais eficaz, levar a criança a confrontar suas hipóteses com as convenções e regras do sistema e conduzí-las para a escrita ortográfica.

Adaptado do texto da Profª Magna Felix Lima.

http://www.4shared.com/file/49907962/4d755d08/DIFICULDADE_DE_APRENDIZAGEM_NO.html?s=1

quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

Fatores intervenientes no processo de aprendizagem – Um Olhar Psicopedagógico.

I. INTRODUÇÃO

Por fatores intervenientes no processo ensino-aprendizagem, neste texto, queremos nos referir àqueles que, de alguma forma e em algum nível, afetam:

1. as possibilidades da construção e expressão dos conhecimentos;

2. o desenvolvimento de condutas compatíveis com as esperadas em determinados estágios de vida;

3. a conquista gradativa da autonomia e da criatividade;

4. o processo de individuação do Eu Cognoscente, segundo as possibilidades que lhe são inerentes de captar, decodificar, interpretar, armazenar e transformar informações e dados em conhecimentos, que possam vir a ser bases das ações e reações ao meio ambiente.

Apesar da amplitude dessa contextualização inicial, é muito comum, na educação escolar, que os chamados fatores intervenientes no processo de aprendizagem estejam associados aos chamados “problemas”, “dificuldades”, distúrbios”, “deficits ou deficiências” no ato de aprender, fatores esses alocados no sujeito aprendente, como portador de uma “síndrome que precisa ser tratada”, com o encaminhamento a especialistas de diferentes áreas.

Nesse sentido, são comuns as queixas de professores sobre o contingente de crianças que, apesar dos seus esforços, não aprendem a ler, a ortografar, a escrever, a pensar e, principalmente, não sentem o tão decantado e esperado “prazer de aprender”. Muito se tem estudado e publicado sobre os chamados “distúrbios da aprendizagem”, diante dos milhares de alunos identificados como “fracassados”, sem que, nestes estudos e pesquisas, para além das hipóteses e propostas apresentadas, tenha-se dado voz, tenha-se permitido ouvir as crianças em suas reais condições e necessidades.

O número excessivo de pessoas que não consegue aprender, em todas as camadas sociais, faz com que repensemos o conceito de “distúrbios de aprendizagem”. As famílias apresentam relatos de pessoas normalmente desenvolvidas em outras esferas e dimensões da vida, mas que não aprendem quando colocadas em situação normal de escolaridade. Sobre isso, diz Barone (1987):

Constata-se que um grande número de crianças que procuram a escola estão impedidas de lograr sucesso. Quase não aproveitam a experiência vivida e acumulam, ao longo dos anos, lacunas e defasagens que aos poucos as afastam totalmente da vida escolar ou, quando não, terminam a escolaridade de forma precária e com grande atraso. Este fato, além de ser penoso para o indivíduo, reveste-se, também, em prejuízo para a sociedade, considerando a ocupação mais demorada de vagas que poderiam ser ocupadas por novos alunos. Além disso, reflete-se diretamente na competência do profissional que tem acesso ao mundo do trabalho, gerando desempenho de baixa qualidade e estimulação ao sub-emprego (p.17-18).

Barone (1987, p.18), em suas reflexões, destaca fatores que podem vir a contribuir para esse quadro:

1. aumento do contingente da população que hoje tem acesso à escola e o relativo despreparo da escola para recebê-lo;

2. A complexidade cada vez maior do universo de conhecimentos que deve ser passado à criança;

3. A competição que a escola sofre com outros meios de comunicação e informação, notadamente a televisão;

4. A discrepância, muitas vezes ressaltada e discutida, entre o conteúdo escolar e a vida;

5. O despreparo do professor frente a mudanças rápidas e demandas diversificadas que caracterizam a sociedade pós-moderna;

6. A ênfase excessiva na formação técnica e na transmissão de um conteúdo acabado, em detrimento de uma formação crítica e que valorize o processo do aprender;

7. As características individuais do aprendiz no que tange ao ritmo e peculiaridades de seu desenvolvimento cognitivo, emocional, linguístico, psicomotor e social.

Diante das reflexões de Barone (1987), talvez fique mais fácil perceber o primeiro parágrafo deste texto – não se podem analisar os distúrbios de aprendizagem como fatores intervenientes no processo da construção do conhecimento, senão levando em consideração uma perspectiva dinâmica, que busque percebê-los e entendê-los como um sintoma, uma manifestação que envolve a totalidade da personalidade. Os distúrbios de aprendizagem não são entidades fixas – para compreendê-los é necessário um estudo profundo da aprendizagem humana: seus padrões evolutivos normais e patológicos, esses últimos considerados a partir de uma pluralidade causal.

Em termos vivenciais, quando uma criança apresenta dificuldades em seu “processo normal” de escolarização, ou são tributadas a ela as causas do seu fracasso, eximindo-se escola e família de um olhar inquisitivo e questionador sobre as suas dinâmicas de funcionamento que possam estar na base dessa questão, ou, por outro lado, mobilizam-se sentimentos de impotência e inoperância em pais e professores, geralmente acompanhados de uma questão: “Onde foi que eu errei ???”

Um dos primeiros passos a articular nesse texto é diferenciar uma nomenclatura aparentemente coincidente e usada de forma indiscriminada quando se fala dos fatores intervenientes no processo de aprendizagem, geradores de sintomas de diferentes ordens e níveis, que vão da diferença à dificuldade, da deficiência (déficit) ao distúrbio (desvio), do normal ao patológico, trazendo problemas or desconpensação no processo de aprendizagem. Apoiadas em Sacconi (1996) podemos fazer um pequeno glossário:

1. APRENDIZAGEM – ação ou efeito de aprender; aprender – ficar sabendo, reter na memória, adquirir conhecimentos ou experiências…(p.59);

2. DIFERENÇA – qualidade ou condição de ser desigual ou dessemelhante; característica distintiva; distinção, discriminação… (p.249);

3. DIFICULDADE – qualidade ou condição de difícil; problema, impedimento, estorvo, obstáculo, complicação, complexidade…(p.250);

4. DEFICIÊNCIA (DEFICIT) – ausência de alguma coisa essencial; defeito; insuficiência, precariedade ( a deficiência do ensino oficial – exemplo e grifo do próprio autor…) (p.225);

5. DISTÚRBIO – qualquer perturbação ou interrupção da normalidade ou da paz exterior ou interior: distúrbios nervosos, políticos… (p.256);

6. DESVIO – ação ou efeito de desviar-se; desviar – mudar a direção, mudar a posição de, deslocar, afastar-se, separar-se, divergir…(p.245);

7. NORMAL -conforme ao que é padrão, natural; sem problemas mentais ou emocionais; estado natural, usual, comum; pessoa normal – normalidade s.f.; Antônimo – anormal, doente … ( p.483);

8. ANORMAL – o que não é normal; pessoa que sofre das faculdades mentais, excepcional…(p.46);

9. PATOLOGIA – estudo das causas, características e efeitos das doenças – patológico – adj….( p.510);

10. PROBLEMA – qualquer questão ou assunto que envolve dúvida, incerteza ou dificuldade; pessoa difícil de lidar ou de conviver... (p. 546);

11. SINTOMA – qualquer alteração perceptível no organismo ou em suas funções que indique doença, tipo de doença, ou fase em que ela se encontre; sinal característico de existência de algo mais, evidência – sintomático…(p.613, grifo nosso);

12. DESCOMPENSAÇÃO – descompasso; falta de acordo, desacordo…(p.235);

É possível constuirmos um mini-texto com o emprego das palavras pesquisadas e que fazem parte do vocabulário comum dos que lidam com fatores intervenientes na aprendizagem, para efeito de maior clarificação de suas especificidades. Poderíamos, talvez, falar assim:

Todas as vezes em que famílias ou escolas percebem em seus filhos /alunos dificuldades com relação ao ato de aprender, que expressam diferenças na comparação com o que deles se espera, como manifestações próprias do pensamento infantil, em determinada faixa etária, pode-se observar uma inquietação face a esse distúrbio, no que tange às suas causas, extensão e formas de intervenção. Os problemas de aprendizagem podem ocorrer tanto no início, quanto no decorrer do período escolar e expressam diferenças que variam de aluno para aluno, solicitando uma investigação no campo em que eles se manifestam. O desconhecimento das manifestações próprias do comportamento infantil em diferentes fases de seu desenvolvimento suscitam dúvidas a respeito dos padrões normais, considerando-se, muitas vezes, as reações problemáticas como respostas anormais ou patológicas, quando, em muitos casos, são sintomas ou desvios que, corretamente identificados em suas origens, podem ser superados à medida em que a criança evolui. Em algumas situações, as diferenças no ato de aprender podem expressar um grito de protesto de crianças saudáveis que se recusam ao cabresto de um estudo alienante ou à submissão à autoridade autoritária com que são tratados ( RUBINSTEIN, 1987, p. p. 16). Em outras situações, deficiências ou deficits de aprendizagem específicos merecem um assinalamento focalizado e a adoção de recursos corretores de diagnóstico e intervenção. Portanto, segundo José & Coelho (2002, p. 23), os problemas de aprendizagem referem-se a situações difíceis enfrentadas pelas crianças normais e pelas crianças com um desvio do quadro de normalidade, mas com expectativa de aprendizagem a longo prazo (alunos multirepetentes).

Segundo J.Paz (apud JOSÉ & COELHO, 2002, p. 23), “podemos considerar o problema de aprendizagem como um sintoma, no sentido de que o não-aprender não configura um quadro permanente, mas ingressa numa constelação peculiar de comportamentos, nos quais se destaca como sinal de descompensação”.

Por outro lado, alguns autores que se dedicam a esse assunto usam os termos problema ou distúrbio de maneira indiscriminada. Portanto, dizem José & Coelho (2002, p. 23), “estabelecer claramente os limites que separam “problemas” de aprendizagem dos chamados “distúrbios” de aprendizagem é uma tarefa muito complicada, que fica a critério dos especialistas das diferentes áreas em que a deficiência se apresenta”.

E dizem mais: ao educador, cabe apenas detecter as dificuldades de aprendizagem que aparecem em sua sala de aula, principalmente nas escolas mais carentes, e investigar as causas de forma ampla, que abranja os aspectos orgânicos, neurológicos, mentais, psicológicos, adicionados à problemática ambiental em que a criança vive. Essa postura, continuam as autoras, facilita o encaminhamento da criança a um especialista que, ao tratar da deficiência, tem condições de orientar o professor a lidar com o aluno em salas normais ou, se considerar necessário, de indicar a sua transferência para salas especiais.

1.OS DISTÚRBIOS DA FALA

MUDEZ – Incapacidade de articular palavras, geralmente decorrente de transtornos do sistema nervoso central, atingindo a formulação e a coordemação das idéias e impedindo a sua transmissão em forma de comunicação verbal. Na maior parte das vezes, decorre de problemas da audição, certos tipos de distúrbio cerebral ou, ainda, outros fatores físicos como lábio leporino, dentição mal implantada, más formações da boca e do nariz, além de fatores emocionais e psicológicos, autismo, dentre outros.

ATRASO NA LINGUAGEM – A partir dos 14 meses, as crianças tornam-se capazes de pronunciar palavras com significado e espera-se que por volta dos 3 anos ela já apresente uma linguagem estruturada. Essa cronologia é relativa e, muitas vezes, a criança tem sua fala “atrasada” por vários motivos, dentre eles problemas de audição, e fatores emocionais ( traumas, carências afetivas, super-proteção, desejos atendidos com prontidão, falta de estimulação – crianças em asilos, por ex. …). Em princípio, esse atraso é superado após os 4 anos. Em outros casos, o problema se transforma em distúrbio específico de articulação durante alguns anos e é resolvido via tratamento especializado. Na escola, essas crianças revelam deficiência de vocabulário, deficiência na capacidade de formular idéias e desenvolvimento retardado da estruturação de sentenças.

PROBLEMAS DE ARTICULAÇÃO – Durante a fase pré-escolar, é normal a dificuldade de articular certos sons, pois só por volta dos 7 ou 8 anos é que os órgãos da fala têm maturidade suficiente para produzir todos os sons lingüísticos. Os problemas de articulação se subdividem em:

1. Dislalia – É a omissão, substituição, distorção ou acréscimo de sons na palavra falada (exemplo de substituição – substitui o r como faz o Cabolinha…);

2. Disartria – É um problema articulatório que se manifesta na forma de dificuldade para realizar alguns ou muitos dos movimentos necessários à emissão verbal. A fala fica lenta e arrastada, apresentando quebras de sonoridade, envolvendo ritmo e entonação, principalmente em momentos de tensão ou fadiga, nos casos mais brandos;

3. Linguagem Tatibitati – É um distúrbio de articulação e também de fonação em que se conserva voluntariamente a linguagem infantil, sendo, geralmente, de causa emocional, podendo resultar em problemas psicológicos para a criança, por ser incentivado pelos adultos que acham a “fala engraçadinha”.

4. Rinolalia – Caracteriza-se pela ressonância nasal maior ou menor do que a do padrão correto da fala. Pode ser causada por problemas nas vias nasais, por adenóide, lábio leporino ou fissura palatina, acarretando problemas emocionais pois a criança é ridicularizada pelos colegas que a imitam, gerando problemas de adaptação.

5. PROBLEMAS DE FONAÇÃO – Os problemas de fonação – ou disfonias – dizem respeito às pequenas mudanças em suas características (cadência, inflexão, intensidade, timbre ou tom), as quais funcionam, normalmente, como recursos para expressão de desejos, sentimentos e necessidades. Em certas circunstâncias, porém, esse domínio pode ser abalado, afetando todo o mecanismo de produção de sons e impedindo, portanto, que a expressão verbal se manifeste de forma adequada. Eles podem ser considerados funcionais – quando impedem o controle dos sons mas envolvem somente os órgãos periféricos; podem ser chamados de orgânicos, por outro lado, quando envolvem o comprometimento do sistema nervoso central. São exemplos de disfonias, a voz em falsete, a afonia ( que começa com uma rouquidão), a pronúncia defeituosa de alguns sons, como m em vez de b, n em vez de d, além da chamada voz monótona, de fundo orgânico, causada por doença no sistema nervoso central , caracterizada pela incapacidade de inflexão de voz.

6. DISTÚRBIOS DE RITMO – Os distúrbios de ritmo – ou disfluência – referem-se à fala produzida com repetições de sílabas, palavras ou conjuntos de palavras, prolongamentos de sons, hesitações, bloqueios, dificuldades para prosseguir a emissão dos sons, mantendo-se a contração muscular inicial. Mas os desvios de assunto em uma conversa e a desorganização de relatos também podem ser agregados à categoria das disfluências. O exemplo mais comum de disfluência é a gagueira.

7. AFASIA – Perda ou avaria da capacidade de se comunicar mediante a fala, a escrita ou a mímica, em princípio devida a lesão cerebral. Com diferentes manifestações, a pessoa ouve e vê mas não compreende a linguagem falada ou escrita (afasia sensorial ou receptiva); é incapaz de falar ou escrever adequadamente, mas o aparelho fonador não está paralisado ( afasia motora ou expressiva); não consegue “encontrar” as palavras nem formular conceitos ( afasia conceitual); apresenta todas as formas de linguagem afetadas ( afasia global ou mista); tem dificuldade para começar a fala e para produzir as seqüências articulatórias e gramaticais ( afasia não-fluente) e articula e produz seqüências grandes de palavras em construções gramaticais variadas, mas tem dificuldade para encontrar vocábulos ( afasia fluente).

2. OS DISTÚRBIOS DA LEITURA

Os distúrbios de aprendizagem na área da leitura e da escrita podem ser atribuídos às mais variáveis causas:

ORGÂNICAS – Cardiopatias, encefalopatias, deficiências sensoriais (visuais e auditivas), deficiências motoras (paralisia infantil, paralisia cerebral), deficiências intelectuais (retardamento mental ou diminuição intelectual), disfunção cerebral ou outras enfermidades.

PSICOLÓGICAS – Desajustes emocionais provocados pela dificuldade que a criança tem de aprender, o que gera ansiedade, insegurança e autoconceito negativo.

PEDAGÓGICAS – Métodos inadequados de ensino, falta de estimulação na pré-escola dos requisitos necessários à leitura e à escrita, falta de percepção por parte da escola do nível de maturidade da criança, iniciando uma alfabetização precoce, relacionamento deficiente professor-aluno, não domínio do conteúdo e do método por parte do professor, atendimento precário à criança pela superlotação da sala…

SÓCIO-CULTURAIS – Falta de estimulação da criança que não faz a pré-escola e também não é estimulada no lar, desnutrição, privação cultural do meio, marginalização das crianças com dificuldades de aprendizagem pelo sistema de ensino comum. Nesse item, destacam-se os estudos de Soares (2000), em seu livro –“Linguagem e Escola: Uma perspectiva social” – onde ela faz toda uma reflexão sobre a educação nas camadas populares do Brasil. Grande parte do conflito que se dá entre o progressivo acesso à escola e a sua incompetência em gerar um ensino de qualidade para as camadas populares deve-se a seu ver à ideologia que inspira as teorias e propostas pedagógicas. Evidenciam os conflitos entre a linguagem de uma escola a serviço das classes dominantes, cujos padrões linguísticos usa e quer ver usados, e a linguagem das camadas populares, que essa escola censura e estigmatiza (p.6).

DISLEXIA – De acordo com José & Coelho (2002), a dislexia, apesar de ser um tipo de distúrbio da leitura, termina por ser alocado como causa específica de diatúrbios na aprendizagem da identificação dos símbolos gráficos, embora a criança apresente inteligência normal, integridade sensorial e receba estimulação e ensino adequados. Devido à falta de informações dos pais e dos professores do pré-escolar em identificar os sintomas da dislexia antes da entrada da criança na escola, ela termina por só ser identificada por volta da 1ª ou 2ª séries do fundamental, com os primeiros indícios surgindo na alfabetização. Por isso, a dificuldade na leitura significa, apenas, o resultado final de uma série de desorganizações que a criança já vinha apresentando no seu comportamento pré-verbal, não-verbal e em todas as funções básicas necessárias para o desenvolvimento da recepção, expressão e integração da função simbólica. A dislexia, segundo Myklebust (apud JOSÉ & COELHO, 2002,p. 84) “representando um déficit na capacidade de simbolozar, começa a se definir a partir da necessidade que tem a criança de lidar receptivamente ou expressivamente com a representação da realidade, ou antes, com a simbolização da realidade, ou poderíamos, também dizer, com a nomeação do mundo”. Nesse sentido, ela apresenta sérias dificuldades com a identificação dos símbolos gráficos (letras / números) no início de sua alfabetização, o que acarreta fracasso em outras áreas que dependam da leitura e da escrita. De acrdo com a Associação Brasileira de Dislexia (ABD), as principais dificuldades do disléxico são: demora a aprender a falar, a fazer laço no sapato, a reconhecer horas, a pular corda, pegar e chutar bola; dificuldades em escrever números e letras corretamente, ordenar as letras do alfabeto, meses do ano, distinguir direita e esquerda; compreensão da leitura mais lenta, incomum dificuldade em decorar tabuada, Llentidão ao fazer as quatro operações, dificuldades em pronunciar palavras longas, planejar e redigir.

Em geral considerada relapsa, desatenta, preguiçosa, sem vontade de aprender, o disléxico demonstra insegurança e baixa apreciação de si mesmo, sendo comum o abandono da escola, as reações rebeldes ou de natureza depressiva, havendo necessidade de tratamento especializado.
Entre os fatores a serem considerados no processo de aprendizagem da leitura e da escrita estão, em linhas gerais, os que se seguem: a prontidão para aprender; a percepção; o esquema corporal; a lateralidade; a orientação espacial e temporal; a coordenaçao visomotora; o ritmo; a capacidade de análise e síntese visual e auditiva; habilidades visuais e auditivas; memória cinestésica;linguagem oral. Entre os distúrbios apresentados no campo da
LEITURA podemos destacar os que se expressam nas seguintes áreas:

MEMÓRIA – A criança, quando apresenta dificuldade auditiva e visual de reter informações, pode ser incapaz de recordas os sons das letras, de juntar sons para formar palavras ou, ainda, memorizar seqüências , não conseguindo lembrar a ordem das letras ou sons dentro das palavras. Esse distúrbio de memória resulta de disfunções do sistema nervoso central, e freqüentemente se manifesta só no aspecto visual ou só no aspecto auditivo.

ORIENTAÇÃO ESPAÇO-TEMPORAL – A criança não é capaz de reconhecer direita e esquerda, não compreende ordens que envolvem o uso dessas palavras e fica confusa nas aulas de Educação Física, por não entender as regras dos jogos. Quanto ao tempo, mostra-se incapaz de conhecer horas, dias da semana, etc.

ESQUEMA CORPORAL – Geralmente as crianças com distúrbios de leitura têm um conhecimento deficiente do seu esquema corporal. Apresentam dificuldade para identificar as partes do corpo e não revelam boa organização da postura corporal no espaço em que vivem.

MOTRICIDADE – Algumas crianças têm distúrbios secundários de coordenação motora ampla e fina, o que atrapalha seu equilíbrio e sua destreza manual. Caem com facilidade, são desajeitadas, não conseguem andar de bicicleta ou mesmo manipular peças pequenas de material pedagógico.

DISTÚRBIOS TOPOGRÁFICOS – É a incapacidade que algumas crianças têm de compreender legendas de mapas, gráficos, globos, maquetes. Não conseguem entender a escala simbólica que está sendo usada para definir o espaço real.

SOLETRAÇÃO – Existem crianças que têm profunda dificuldade de revisualizar e reorganizar auditivamente as letras - ou seja, soletrar. A limitação na escrita será resultado da limitação na leitura.

Por outro lado, em se tratando de dificuldades de leitura oral, podemos destacar as que se ligam à percepção visual e auditiva – dificuldade de discriminação visual e auditiva – bem como as que se referem à leitural silenciosa – lentidão no ler, acompanhada de dispersão; leitura subvocal (cochichada); necessidade de apontar as palavras com lápis, régua ou dedo; perda da linha durante a leitura; repetição da mesma frase ou palavra várias vezes.Todo esse conjunto de sintomas vai se refletir, diretamente, nas dificuldades de compreensão da leitura e pode ocorrer em três níveis: literal (engloba a compreensão das idéias contidas no texto); inferencial (dificuldade de perceber as idéias que não estão contidas no texto e dependem da experiência do leitor); crítico (estabelecimento de comparações e julgamentos entre o dito pelo autor e o pensado pelo leitor).

3. OS DISTÚRBIOS DA ESCRITA E DA ARITMÉTICA

No domínio da ESCRITA encontramos, basicamente, três tipos de distúrbios:

DISGRAFIA – É a dificuldade em passar para a escrita o estímulo visual da palavra impressa. Caracteriza-se pelo lento traçado das letras, que em geral são ilegíveis. A criança disgráfica não é portadora de defeito visual ou motor, nem apresenta qualquer comprometimento intelectual ou neurológico. No entanto, ela não consegue idealizar no plano motor o que captou no plano visual. As crianças disgráficas apresentam desordem no texto, margens mal feitas, que não são respeitadas, espaço irregular entre as palavras e linhas, traçados de má qualidade (ou pequeno ou grande demais), movimentos contrários aos da escrita convencional, dentre outros.

DISORTOGRAFIA - Caracteriza-se pela dificuldade de transcrever corretamente a linguagem oral, havendo trocas ortográficas e confusão de letras. São normais durante as 1ª e 2ª séries do Ensino Fundamental porque a relação entre a palavra impressa e os sons ainda não está totalmente dominada. A partir daí, os professores devem avaliar as dificuldades ortográficas por seus alunos, principalmente aquelas já conhecidas e trabalhadas em sala. Algumas trocas comuns: a) Confusão de letras - f / v; p /b; ch / j; b) confusão de sílabas – cantaram / cantarão; c) confusão de palavras – pato / pelo; d) uso de palavras com um mesmo som para várias letras – casa / caza; azar / asar; exame / ezame…

ERROS DE FORMULAÇÃO E SINTAXE – São crianças que conseguem ler com fluência e apresentam uma linguagem oral perfeira, compreendendo e copiando palavras, mas não conseguem escrever cartas, histórias ou dar respostas a perguntas escritas em provas. Na fala escrita comete erros que não ocorrem na fala oral, não conseguindo, portanto, transmitir para a escrita os conhecimentos adquiridos.

Dentre os distúrbios da ARITMÉTICA, devemos ressaltar o fato de que essa área do conhecimento se expressa através de símbolos: assim sendo, cabe abordar aqui as dificuldades dos alunos que não conseguem compreender instruções e enunciados matemáticos, bem como as dificuldades daqueles que não conseguem lidar com as operações aritméticas, caracterizando as dificuldades em duas categorias que, aopesar de distintas, se interpenetram, uma vez que, muitas vezes, é preciso resolver a questão do não-entendimento do enunciado, antes de se verificar as dificuldades nas operações em si.

DISCALCULIA – A dificuldade na matemática pode ter várias causas – pedagógicas; capacidade intelectual limitada; disfunção do sistema nervoso – essas desordens têm sido consideradas como discalculias, uma disfunção que impede a criança de compreender os processos e princípios matemáticos. Dependendo do grau em que se apresentem, podem ser assim agrupados:

1. Distúrbios de linguagem receptivo-auditiva e aritmética: as crianças dessa categoria se saem bem em cálculos, mas têm dificuldades nas questões que envolvem raciocínio aritmético, em função da limitação na decodificação dos enunciados;

2. Memória auditiva e aritmética: expressam-se de duas formas – a) dificuldades de reorganização auditiva ( reconhece o número quando ouve, mas nem sempre consegue dizê-lo quando quer); b) incapacidade de ouvir os enunciados apresentados oralmente e, em conseqüência, não é capaz de guardar os fatos , o que o impede de resolver os problemas propostos;

3. Distúrbios de leitura e aritmética: apresentam dificuldades para ler os enunciados dos problemas, mas são capazes de fazer cálculos quando as questões são lidas em vos alta;

4. Distúrbios de escrita e aritmética: as crianças com disgrafias não conseguem aprender os padrões motores para escrever letras e números, razão pela qual os conceitos matemáticos precisam ser passados para elas de outras maneiras até que o distúrbio da escrita tenha sido superado.

4. OS DISTÚRBIOS PSICOMOTORES

Segundo José & Coelho (2002. p. 108), “podemos definir psicomotricidade como a educação do movimento com atuação sobre o intelecto, numa relação entre pensamento e ação, englobando funções neurofisiológicas e psíquicas”. Ainda segundo as autoras, como o comportamento físico da criança expressa, uma a uma, suas dificuldades intelectuais e emocionais, pode-se dizer que a psicomotricidade é a ciência do corpo e da mente, integrando várias técnicas com as quais se pode trabalhar o corpo (todas as suas partes), relacionando-o com a afetividade, o pensamento e o nível da inteligência. Enfoca a educação dos movimentos, ao mesmo tempo em que põe em jogo as funções intelectuais. As primeiras evidências de um desenvolvimento mental normal são manifestações puramente motoras (JOSÉ & COELHO, 2002, p. 108, grifo nosso).

Qualquer distúrbio psicomotor tem ligação com problemas que envolvem o indivíduo em sua totalidade. Distúrbios psicomotores e afetivos estão, intimamente, associados, razão porque o diagnóstico não é facil de ser feito. Os sintomas mais comuns desse distúrbio estão associados à área do ritmo, da atenção, do comportamento, esquema corporal, orientação espacial e temporal, lateralidade e maruração (retardos).
Esses distúrbios podem ser classificados em quatro grupos, segundo Grünspun (apud JOSÉ & COELHO, 2002, p. 111):

INSTABILIDADE PSICOMOTORA – É o tipo mais complexo e causa uma série de transtornos pelas reações que o portador apresenta, com o predomínio de uma atividade muscular contínua e incessante. Essas crianças revelam instabilidade emocional e intelectual; falta de atenção e concentração; atividade muscular contínua (não terminam tarefas iniciadas); falta de coordenação geral e coordenação motora fina; hiperatividade e equilíbrio prejudicado; deficiência na formulação de conceitos e no processo de percepção ( discriminação de tamanho, figura-fundo, orientação espaço-temporal); alteração da palavra e da comunicação (atraso na linguagem e distúrbios da palavra); alterações emocionais ( são impulsivas, explosivas, sensíveis, frustram-se com facilidade, destruidoras); alterações do sono ( terror noturno, movimentos enquanto dormem); alterações no processo do pensamento abstrato; dificuldades de escolaridade ( leitura, escrita, aritmética, lentidão nas tarefas, dificuldade de copiar da lousa, entre outras manifestações.

DEBILIDADE PSICOMOTORA – Caracterizada por PARATONIA: Limitação nas quatro extremidades do corpo (ou apenas em duas) – “deselegância” ao correr – limitações e rigidez nas mãos e nas pernas; e SINCINESIA – Participação de músculos em movimentos aos quais eles não são necessários – descontinuidade de gestos; imprecisão nos movimentos dos braços e das pernas; dificuldade de realizar os movimentos finos dos dedos…

INIBIÇÃO PSICOMOTORA – Além das características da DEBILIDADE PSICOMOTORA, neste caso a ansiedade é presença constante – a criança apresenta sobrancelha franzida; cabeça baixa; problemas de coordenação motora; distúrbios de conduta, dentre outros.

LATERALIDADE CRUZADA – Amaioria dos autores acredita que existe no cérebro um hemisfério predominanteresponsável pela lateralidade do indivíduo – desta maneira, de acordo com a ordem enviada pelo cérebro dominante, teremos o destro ou o canhoto. No entanto, segundo José & Coelho (2002, p. 114), além da dominância da mão, existe também a do pé, do olho, do ouvido. QUANDO ESSAS DOMINÂNCIAS NÃO SE APRESENTAM DO MESMO LADO DIZ-SE QUE O INDIVÍDUO TEM LATERALIDADE CRUZADA – os distúrbios psicomotores são evidentes e resultam em deformação do esquema corporal. São algumas as formas mais comuns desse distúrbio: mão direita dominante X olho esquerdo dominante; mão direita dominante X pé esquerdo dominante e o inverso. Geralmente essas crianças apresentam alto índice de fadiga; quedas freqüentes; coordenação pobre; atenção instável; problemas de linguagem (dislalias, lingua enrolada…).

IMPERÍCIAS – É um distúrbio de menor gravidade, a criança apresenta inteligência normal, apesar de uma certa frustração pela dificuldade de realizar certas tarefas que exijam apurada habilidade manual. Apresentam dificuldades na coordenação motora fina; quebra constante de objetos; letra irregular; movimentos rígidos; alto índice de fadiga

5. DISTÚRBIOS DA SAÚDE FÍSICA

Talvez, o mais conhecido dos quadros de distúrbios envolvem aspectos ligados à visão, audição, defeito ou disfunção em qualquer parte do corpo, anemias crônicas, verminoses, epilepsia.

DISTÚRBIOS DA VISÃO - Como identificar:

1. pelo modo de agir da criança – esfregar os olhos, sensibilidade à luz, piscar excessivamente, apertar os olhos…

2. pela queixa da criança – não enxerga bem, visão embaralhada, tonturas, dores de cabeça, náuseas…

3. pela observação – olhos inflamados, vermelhos, lacrimejantes, estrabismo, terçóis…

4. durante a leitura e a escrita – segura o livro muito perto, perde o lugar da página, pára depois de certos períodos de leitura…

Alguns distúrbios mais comuns: miopia, hipermetropia, astigmatismo, estrabismo, daltonismo.

DISTÚRBIOS DA AUDIÇÃO – Como identificar:

1. defeitos de linguagem;

2. expressão oral pobre;

3. pedidos para que repitam palavras e instruções;

4. uso excessivo de “o que?”, “como?”;

5. andar arrastando os pés;

6. ausência de reações a sons pouco intensos, for a de seu campo visual;

7. dores ou supuração de ouvidos;

8. ditados com muitos erros;

9. irritabilidade…

Além da surdez congênita ou adquirida, os deficientes auditivos ou hipoacústicos são indivíduos cuja audição, apesar de deficiente, é funcional, podendo a criança ter as mesmas condições intelectuais e psicomotoras de uma criança normal.

DISRITMIA CEREBRAL – “Disritmia Cerebral significa apenas uma alteração do rítmo elétrico cerebral , alteração essa que pode ocorrer em intervalos de horas, dias ou meses” (CAMPOS. Apud JOSÉ & COELHO, 2002, p. 157). Podem ser produzidas por traumas de parto, falta de oxigênio ao nascer, infecção no sistema nervoso, menigites, encefalites, quedas sem causas aparentes…

EPILEPSIA – É um dos mais sérios problemas em sala de aula, requerendo do professor conhecimento e habilidade para atuar, procurando esclarecer-se sobre as características do quadro e as formas corretas de atendimento.

DISFUNÇÃO CEREBRAL MÍNIMA – Este tem sido um dos distúrbios mais difundidos e analisados no campo neurológico, desde que, em 1925, Samuel T. Orton, neurologista, reuniu, para estudo, um grupo de 65 crianças nas quais se destacavam dificuldade de leitura, escrita, soletração, escrita em espelho, troca da seqüência das letras das palavras, inquietude, falta de fixação da atenção, desajeitamento e dificuldades no aprendizado escolar. De início qualificadas como portadoras de uma “lesão cerebral mínima”, que nunca foi evidenciada em exames neurológicos, passá-se a condiderar “disfunção” em lugar de “lesão”. Até hoje, essa disfunção ainda não foi suficientemente aclarada e tem havido uma certa tendência em fazê-la coincidir com os Transtornos de Deficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH).

TRANSTORNO DE DEFICIT DE ATENÇÃO E HIPERATIVIDADE - (TDAH) – Conforme descrito acima, essas crianças apresentam sintomas que podem ser observados a partir dos 7 anos de idade e que podem ser agrupados em três núcleos: desatenção ( falha freqüênte na atenção a detalhes, dificuldade de focar a atenção em tarefas ou atividades lúdicas, parece não escutar quando lhe falam diretamente, não consegue seguir instruções risca ou terminar tarefas escolares , tem dificuldade de organização, evita atividades que solicitem esforço mental contínuo, distrai-se com estímulos externos, esquece-se das atividades diárias…); hiperatividade ( é inquieto, fica com os pés e as mãos mexendo constantemente quando sentado, levanta-se constantemente de seu lugar na sala, corre ao redor, sobe nas coisas em momentos impróprios, tem dificuldade em sentar e brincar com atividades mais quietas, está “pronto para decolar”, ou age como se estivesse “ligado a um motor”, fala excessivamente…); impulsividade ( responde de forma intempestiva, antes do t´ermini da pergunta, tem dificuldade para aguardar sua vez, intromete-se ou interrompe os outros em jogos ou conversas…). Segundo Araújo (2004, p. 28) “apesar de a Medicina não contar com dados conclusivos sobre formas de tratamento, o TDA (ou TDAH, quando associado à hiperatividade) é considerado um distúrbio psiquiátrico, portanto, uma doença”. Na escola, os indícios de que a criança possui esse distúrbio precisa ser analisados por uns seis meses antes de encaminhamento médico que, em geral, é multidisciplinar, com utilização, muitas vezes, de medicação.

1. OS DISTÚRBIOS DE COMPORTAMENTO

Em geral, os distúrbios de comportamento são criados ou agravados por alguns fatores, tais como: a) Conflitos provenientes de lares em que os valores e os padrões aceitáveis de comportamento estão em contraste com os da escola; b) Atritos entre adultos e adolescentes; c) Contradições quanto aos padrões de comportamento do grupo de colegas e os da família ou escola; d) Sentimentos de fracasso e desânimo a partir de insecessos na escolaridade ; e) Pressão, competição, concorrência.

Alguns distúrbios de comportamento

AUTISMO – Caracteriza-se por uma interiorização intensa – um fechamento em si mesmo – e por um pensamento desligado do real. Essa incapacidade de relacionamento pode surgir nos primeiros anos de vida e seu maior sintoma é a criança viver em um mundo todo particular. Nenhuma teoria orgânica ou interpessoal, até então, foi plenamente aceita.

AGRESSIVIDADE – O estudo da agressividade na criança revela que o convívio social e fatores de agressão no lar contribuem decisivamente para o desenvolvimento da superagressividade na criança. No ambiente escolar, esse comportamento revela-se das mais variadas formas - da reação de um ímpeto emocional, caótico e difuso, quando a criança chora, esperneia e esbraveja, até o ataque verbal ou físico, com murros, pontapés e mordidas.

MEDO – Basicamente, quando o medo chega ao nível de distúrbio, dois fatores podem ser intervenientes: a falta de segurança ou a falta de amor e proteção. No entanto, outros fatores coadjuvantes merecem ser lembrados: experiências prévias que provocaram medo, atitude medrosa dos pais, ameaças de adultos, imaturidade por superproteção, dentre outros.

FOBIA ESCOLAR – Caracteriza-se pela incapacidade parcial ou total de freqüentar a escola, podendo ocorrer em todos os níveis sociais, em todos os graus de escolaridadee em todos os níveis de inteligência. Manifestam-se por meio de ansiedade, pânico, náuseas, vômitos, diarréias, dor de cabeça, dor de barriga, falta de apetite, palidez e, até, febre. Não se deve confundir a fobia escolar com temor natural dos primeiros dias de aula. A fobia escolar tem como uma das causas não tanto o medo de ir à escola, mas o de ser abandonado for a de casa. Esse temor acentua-se quando a mãe, insegura, carente afetivamente e que precisa da criança para realizar-se emocionalmemnte, tolhe todo o processo de crescimento e de liberdade do filho, enfraquecendo-o inconscientemente e prolongando sua dependência.

CIÚME – O ciúme, quando patológico, traz reações imprevisíveis e incontroláveis que vão desde a invela, seguida da raiva, do ódio, da pena, autocomiseração, vingança, tristexa, mortificação, culpa, vaidade, inferioridade, orgulho, medo, ansiedade…Reflete insegurança quanto à atenção e amor dos pais.

TIMIDEZ – Do ponto de vista do temperamento, a criança já nasce com uma série de características mais ou menos pronunciadas e, assim, umas são mais inibidas, outras mais extrovertidas. No entanto, a timidez excessiva da criança deve ser olhada com seriedade pelos pais. Provém, em geral, de um complexo de inferioridade cultivado, talvez, pelas próprias mensagens parentais, configurando a base do autoconceito e da auto-estima.

FANTASIA – Trata-se aqui, não da fantasia considerada “normal”, que é uma forma de ajustamento da criança ao real. Mas da fantasia caracterizadacomo problema psicológico, usada pela criança como uma espécie de fuga da realidade, que ela não deseja aceitar por alguma razão.

NEGATIVISMO – Caracteriza-se, como distúrbio, por uma resistência exagerada da criança frente às imposições que o adulto lhe faz e essa resistência muitas vezes se manifesta sob forma de desobediência, acompanhada de agressividade. De início, manifesta-se pela recusa em cumprir ordens ou pedidos, fingindo não ouví-los, mostra-se vagarosa,em excesso para comer, tomar banho e, à medida em que cresce, apresenta um vocabulário onde “não” é a primeira forma de reação.

AGITAÇÃO, INQUIETUDE, INATABILIDADE –As causas dessas condutas variam de uma situação para outra, e não se configuram distúrbios senão quando acompanhadas de agressividade provocando descontentamento pessoal e relacional. São reações típicas em certas situações de vida, como diante de um mau ambiente familiar, pais que brigam em frente das crianças, doenças mentais, lesões cerebrais… No entanto, são normais em certos períodos de vida – crises passageiras como as dos três anos e a da puberdade.

SEXUALIDADE – Refle a curiosidade natural de aprender coisas a respeito do sexo, do próprio corpo, do corpo do sexo oposto, do corpo dos pais. Tornam-se distúrbios a partir da maneira como os adultos recebem e lidam com essas necessidades, apresentando ansiedades ou reações impulsivas, deturpação da realidade, levando a criança a fantasias a respeito.

PROBLEMAS FAMILIARES – Uma grande parte dos distúrbios de comportamento reflete o desequilíbrio social e emocional das relações existentes na família, em cujo núcleo existem problemas que podem interferir na aprendizagem, refletindo-se no desempenho escolar, dentre eles: Separação dos pais; Morte dos pais ou de figuras próximas; Superproteção; Vícios infantis…

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Este estudo, longe da pretensão de ser exaustivo, objetivou situar os alunos do Curso de Pedagogia, que estão inscritos na disciplina de Psicologia da Educação III – A Psicologia do Ensino-Aprendizagem – a entrar em contato com alguns dos principais conceitos sobre as deficuldades de aprendizagem e das suas múltiplas formas de expressão. A maneira pontual e sintética com que os fatores que podem intervir e criar obstáculos ao ato do ensinar e do aprender revelam essa intenção de despertar o desejo por uma busca mais aprofundada do que foi descrito e apresentado. Nesse sentido, recomenda-se a leitura de livro “Problemas de aprendizagem”, cujas autoras José & Coelho (2002) dedicam a todos aqueles que educam – pais, mestres,e pessoas engajadas no processo ensino-aprendizagem, sem pretensão de “receitas prontas”, mas de levar à reflexão e ao conhecimento dos aspectos essenciais da observação da criança em seu dia-a-dia.

BIBLIOGRAFIA

ARAÚJO, Paulo. Deficit de atenção – um diagnóstico que você pode fazer. Revista Nova Escola,. São Paulo: Abril, mai 2004, p. 28-29.

BARONE, Leda Maria Codeço. Considerações a respeito do estabelecimento da ética do psicopedagogo. In SCOZ, Beatriz Judith Lima (et al.) Psicopedagogia: o caráter interdisciplinar na formação e atuação profissional. Porto Alegre: Artes Médicas, 1987, cap. 2, p. 17-21.

JOSÉ, Elisabete da Assunção & COELHO, MariaTeresa. Problemas de Aprendizagem. 12 ed. São Paulo: Ática, 2002.

RUBINSTEIN, Edith. A Psicopedagogia e a Associação Estadual de Psicopedagogos de São Paulo. In In SCOZ, Beatriz Judith Lima (et al.) Psicopedagogia: o caráter interdisciplinar na formação e atuação profissional. Porto Alegre: Artes Médicas, 1987, cap. 1, p.1316

* A autora é pedagoga, mestra em Educação, especialista em Educação e Desenvolvimento de Recursos Humanos, Psicopedagogia Institucional, Dinamização de Grupos. Professora da Universidade Estácio de Sá, em cursos de Graduação em Pedagogia e Pós-graduação em Psicopedagogia e Docência Superior. Exerce a Tutoria do Curso de Especialização em EAD - SENAC / RJ, desde 2005.

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Para citar esse artigo:

MORAIS, Maria de Lourdes Cysneiros de. FATORES INTERVENIENTES NO PROCESSO DE APRENDIZAGEM – Um Olhar Psicopedagógico (2006)

http://www.abpp.com.br/artigos/72.htm

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